Em maio de 2022, a cadeia de fast food McDonald 's divulgou o lançamento da sua nova linha de sanduíches: McPicanha. Soa delicioso, não é mesmo? O grande problema é que não havia nenhum traço de picanha no hambúrguer. Apesar do nome, a única presença do corte no lanche era o “molho sabor picanha”.
Depois de denunciada no Procon de diversos municípios, a marca decidiu remover o sanduíche do cardápio e pedir desculpas pelo erro. Porém, a polêmica viralizou muito rápido nas redes sociais, gerando uma grande crise para a marca.
Com isso, o Burger King, outra grande rede de fast food, também entrou na mira do público e das instituições de proteção ao consumidor. Assim como o McPicanha, o Whopper de Costela não tinha carne de costela na sua composição.
Ao contrário do concorrente, o Burguer King não removeu os lanches do cardápio. Depois de ser proibido de vender o sanduíche no Distrito Federal, a marca trocou o nome do Whopper de Costela para Whopper de Paleta Suína. Mas isso não aconteceu sem a marca se tornar alvo de críticas nas redes sociais.
Publicidade enganosa: até onde as marcas podem ir?
Tecnicamente, as letrinhas miúdas na descrição dos lanches nas peças publicitárias e nas lojas físicas de fato explicavam a composição. No McPicanha, não havia carne de picanha na composição do hambúrguer, e sim um molho sabor picanha. E no Whopper de Costela, o hambúrguer era produzido “à base de paleta suína e aroma de costela”. Sendo assim, porque as marcas estavam erradas?
No Brasil, as regras para publicidade são bastante claras, e nenhum artigo de marketing pode levar o consumidor a ser enganado. Nesse caso, as informações sobre a real composição de cada lanche não eram dispostas de forma clara e ostensiva, o que induzia o consumidor a erro e é caracterizado, de acordo com o Procon do Distrito Federal, como publicidade enganosa.
Por isso, o problema já começa no nome do lanche. Pense bem: quando você ouve o nome “McPicanha”, logo presume que se trata de um sanduíche feito com picanha, não é mesmo? A mesma coisa acontece com o Whopper de Costela.
Outro ponto importante é que nem o molho “sabor picanha” é feito com carne de picanha. Pela legislação brasileira, se um produto não é feito com um determinado ingrediente, é preciso avisar ao consumidor. Por isso, não é molho de picanha e sim sabor picanha. Curioso, não é mesmo?
Na carta enviada para a Comissão de Transparência, Governança, Fiscalização e Controle e Defesa do Consumidor do Senado Federal, o McDonald's explicou que “O consumidor brasileiro está acostumado a adquirir produtos que sejam identificados por nomes que remetam ao sabor, ao aroma e a experiência que oferecem, e não necessariamente à sua composição".
E de fato, a maioria dos consumidores não tinha o costume de analisar essas informações no rótulo dos alimentos. Mas isso está mudando!
Consumidores de olho nos rótulos
O que tem acontecido com muitos produtos ao redor do mundo é que as marcas buscam cada vez mais por maneiras de baratear os custos de produção em detrimento da qualidade ao mesmo tempo em que mantém os preços. Assim, uma grande variedade de produtos, especialmente no setor alimentício, passou por alterações na fórmula e/ou no tamanho ao longo dos últimos cinco anos.
Os bombons, por exemplo, antes eram cobertos por chocolate e diziam no rótulo “bombom com cobertura de chocolate”. Agora, muitos são feitos com uma mistura desenvolvida para imitar as características do chocolate e trazem no rótulo a frase “bombom com cobertura sabor chocolate”. É chocolate? Não! Mas faz o consumidor pensar que sim.
Por isso, na hora de escolher produtos para comprar, os consumidores estão cada vez mais de olho nos rótulos para não comprar itens de baixa qualidade. E não só as pessoas estão prestando mais atenção na hora de comprar, como também estão compartilhando nas redes sociais quando encontram produtos com embalagens que induzem ao erro.
2 coisas que aprendemos com os casos do McPicanha e do Whopper de Costela
1. Enganar o consumidor significa prejudicar a confiança na marca
Mesmo que ambas as empresas não tenham mentido sobre a composição dos lanches, é fato que o McPicanha e o Whopper de Costela enganaram muitas pessoas. Isso prejudica muito a confiança nas marcas e mancha a imagem das empresas com os consumidores. Por isso, o ideal é ser sempre sincero em todos os materiais que a sua empresa produz, desde a embalagem dos produtos até a divulgação.
E é importante destacar que podem haver implicações legais para esse tipo de erro. Além de ser proibido de vender seus produtos ou serviços, você também corre o risco de enfrentar problemas judiciais com os consumidores que se sentirem lesados pela sua empresa. Não vale a pena, não é mesmo?
2. Produtos de qualidade ganham fama em momentos de crise
Em abril de 2022, a marca de sorvetes Bacio di Latte ganhou muita visibilidade por causa de uma grande polêmica no Twitter. Tudo começou quando uma moça resolveu compartilhar um ato de carinho do seu pai na rede social:
A publicação viralizou rapidamente com o debate sobre o preço dos sorvetes. Cada pote de 400 gramas do gelato custa, em média, R$45 – o que é um valor muito mais alto se comparado com a média dos sorvetes nacionais. Porém, em meio aos debates sobre desigualdade social, uma nova polêmica surgiu: a qualidade dos sorvetes fabricados no Brasil.
Muitas pessoas reconheceram que sentiram diferença no sabor desses produtos ao longo dos anos, e de fato a fórmula é completamente diferente! A confeiteira Carolina Garofani explicou o problema no TikTok. Ela pegou como exemplo uma das marcas de sorvete mais consumida no Brasil. O rótulo traz a imagem de uma fava e uma flor de baunilha, embora o sorvete em si não tenha nenhum traço desse ingrediente na sua composição.
O que aprendemos com isso é que os produtos de qualidade podem sair ganhando com esse tipo de polêmica. O nome Bacio Di Latte foi bastante comentado nas redes sociais, e mesmo com o debate delicado sobre classe e poder aquisitivo, a imagem da marca acabou sendo muito positiva.
Pensar no consumidor final é fundamental para criar uma marca de sucesso. Desde a criação de novos produtos e serviços até as estratégias de marketing, não se pode deixar de considerar o impacto que sua marca terá nas pessoas. Quer saber mais? Descubra como aplicar o marketing no desenvolvimento de produtos.